A área de Developer Relations e o papel da comunidade para o sucesso do seu produto

Seja presencial ou online, a conexão interpessoal é algo que estamos sempre buscando como seres sociais. Quando nos conectamos, de fato, uns com os outros, nos sentimos ouvidos, reconhecidos e, muitas vezes, parte de algo maior.

Criar conexões com o outro é essencial para nos sentirmos vivos.

“Sou porque nós somos”

Essa é uma frase famosa da ética Ubuntu, filosofia e cosmovisão do mundo negro-africano, que reforça a importância do papel das conexões e da vida em comunidade para a evolução da sociedade.

Partindo dessa contextualização sobre relações, neste post pretendo apresentar mais um mundo de possibilidades que descobri na área de produtos digitais, trazendo novas perspectivas para profissionais que já atuam na área de Produto ou que estão em transição de carreira e que são apaixonados por tecnologias e conexões interpessoais.

Portanto, venho destacar a relação entre Produto e Comunidade, introduzindo e defendendo a ideia do crescimento liderado pela comunidade.

Participar e me conectar com esses grupos, como o admina, tem sido uma grande oportunidade e, por isso, quero mostrar que você também pode se encontrar profissionalmente nesse mundo comunitário que tem se tornado uma tendência na área.

Das Ciências Sociais para as Relações com Desenvolvedores e Produto

Antes de entrar nas áreas de Tecnologia e de Produto, minha trajetória profissional tinha sido marcada pela pesquisa científica, sobretudo da área das ciências sociais. Além disso, participei de vários grupos e instâncias coletivas, como diretórios acadêmicos, grupos de pesquisa, comunidades voluntárias e diversos círculos que existiam em torno de uma causa.

Nesses espaços, em coletivo, planejávamos atividades para ajudar a promover a conexão e o pertencimento do grupo. A partir dessas vivências, ao entrar no mundo tech e, mais precisamente, de se, percebi que queria usar dessas metodologias para entender e melhorar a experiência do usuário com a tecnologia. Em outras palavras, entender se era possível trazer o mercado para mais próximo do social. Tive a sensação de que essa era uma oportunidade pouco explorada.

Então, quando me inscrevi na função de Developer Advocate, me aventurei com isso em mente. Para quem não conhece, o papel de Developer Advocate, dentro do grande campo de Developer Relations, é responsável por atuar como apoio e agente facilitador na gestão de comunidades de pessoas desenvolvedoras, levando em consideração o propósito e a cultura do negócio. Meu intuito era resolver problemas e construir melhores experiências e produtos para as pessoas, que nesse caso eram os desenvolvedores.

Developer Relations ou Relações com Desenvolvedores é o termo abrangente para as equipes, incluindo Developer Advocate e Tech Community, cuja responsabilidade é criar e promover a comunidade técnica em torno de uma área importante para o produto. Esse profissionais, como eu, atuam, muitas vezes, como ponte entre a comunidade técnica e a empresa.

Uma definição para comunidade técnica é a seguinte: “um grupo de pessoas que não apenas compartilham princípios comuns, mas também desenvolvem e compartilham práticas que ajudam os indivíduos do grupo a prosperar”.

Na indústria de tecnologia, uma função de Advocate estaria interessada em ouvir as necessidades dos devs, desde esse viés prático, e fornecer a eles apoio e ajuda, coletando feedbacks e defendendo internamente seus interesses. Como resultado, essa relação contribui diretamente para o desenvolvimento do produto.

Em suma, melhorar continuamente os produtos e serviços que os desenvolvedores usam é uma das principais missões dessa função.

Para isso, é necessário passar parte do tempo interagindo com as pessoas desenvolvedoras por meio das redes sociais e demais comunidades, anotando perguntas toda hora e identificando possíveis oportunidades para o negócio. É um trabalho que exige empatia e disposição para se conectar com o outro individualmente.

Por fim, a intenção é garantir que todos os membros da comunidade ao redor da empresa estejam prontos para usar o produto e que seus problemas sejam tratados da melhor forma possível. As equipes de Developer Relations e de Produto, integradas, visam a entender a perspectiva do cliente em um nível profundo com base nesses dados comunitários.

Developer Advocate e Product Manager

A diferença é que a perspectiva do Developer Advocate vem de um alto número de conversas e observações em campo com diversos usuários, enquanto a perspectiva de uma pessoa Product Manager tende a vir de pesquisas de usuários mais estruturadas e entrevistas específicas com esses usuários.

Comunidades podem ajudar a criar produtos melhores

A ideia de uma comunidade – não necessariamente técnica – em torno de um produto não é algo novo. Tem sido usado por corporações (principalmente empresas estrangeiras) para entender como os indivíduos podem impulsionar o sucesso dos negócios através dessas redes online.

Sim, pode ser uma maneira realmente eficiente de escalar o crescimento.

As pessoas não querem apenas comprar um produto, elas esperam mais de uma marca e, quem sabe, a comunidade pode suprir essa expectativa.

Inicialmente, discutia-se muito sobre crescimento liderado pelo marketing, pelas vendas e, depois, liderado pelo produto, o famoso product-led growth.

Nos últimos anos, vem aumentando o debate sobre uma nova forma de crescimento: aquele conduzido pela comunidade - podemos aprofundar sobre esse conceito em um próximo artigo - sobretudo pelo surgimento das grandes comunidades online após a pandemia da COVID-19.

Nessa perspectiva, todo produto deveria ter uma comunidade ou estar associado a alguma plataforma social, pois elas são uma extensão da equipe da empresa e uma parte crítica da interação com as pessoas que usam ou pretendem utilizar o produto ou serviço.

Existe, assim, a comunidade de pessoas que são os consumidores finais. No entanto, o setor específico em que a empresa atua também tem um público geral, o ecossistema de outras empresas de tecnologia que se integram com seus próprios produtos.

É possível diferentes empresas atuarem nesses grandes espaços, interagindo com negócios similares e, no final, todos têm a ganhar com isso.

Além disso, no processo de criação de um produto, é comum que uma pessoa Product Manager passe muito tempo conversando com usuários, de forma individual. As comunidades podem ser uma ótima maneira de ouvir, reagir e buscar ativamente feedback contínuo como parte do Discovery, por exemplo.

Influenciado por essa visão, começo acreditar que construir ótimos produtos começa com foco no usuário, passa pela compreensão compartilhada do que os usuários realmente precisam, sem deixar de priorizar os objetivos alinhados à estratégia e visão de negócio do companhia e do produto.

Recentemente, na Conviso, empresa que atuo como Developer Advocate, relançamos uma comunidade no Slack sobre DevSecOps. Nesse grupo, as pessoas têm um lugar para trocar ideias, fazer perguntas e nos ajudar a aprender sobre o que eles precisam acerca de um tema que fala diretamente sobre nossos produtos. Com efeito, temos a oportunidade de conhecer o outro, ver seu rosto em pequenos ícones e nos envolver no cotidiano, construindo empatia e um ciclo de feedback em torno dos tópicos relacionados à nossa tecnologia.

Com o tempo, temos aprendido muito sobre nosso produto, nossos usuários e suas necessidades.

Vale enfatizar que o crescimento liderado pela comunidade acaba atuando como um multiplicador em cima do crescimento liderado pelo produto.

Na promessa liderada pela comunidade de Mac Reddin, cofundador e CEO da Commsor, ele começa afirmando que ele e seus parceiros “acreditam que uma comunidade próspera é o ativo mais valioso de uma empresa”.

As plataformas comunitárias online têm se tornado prioridade para várias empresas importantes em vários setores. Ao construir um espaço aberto e transparente voltado para o seu produto e temáticas correlacionadas, as pessoas começam a se ver como membros e contribuintes dessa comunidade. Ou seja, passam a se ver como algo além de simplesmente “clientes” ou “usuários”, dado ao sentimento de pertencimento. Eles são membros que pertencem e trazem valor, contribuições e insights, ajudando a organização a crescer e ganhando com isso pela melhoria da experiência com o produto.

À medida que uma organização passa a adotar novas estratégias de marketing e comunicação com um foco em comunidades, os objetivos e resultados tendem a se transformar. De certa forma, a direção das prioridades também é alterada, pois em vez de focar em “o que posso obter dessa pessoa?”, agora o cerne é entender como o negócio pode contribuir com essa pessoa e qual valor lhe pode fornecer de maneira gratuita.

Por isso, prefiro pensar em comunidades como algo que vai além do mundo corporativo. Como um espaço em que podemos fortalecer causas, ideias, nos ajudar e aprender. A construir algo novo a partir das conexões.

Lembre-se, não é apenas sobre marca ou empresa. É sobre a comunidade, sobre as pessoas que estão ali, o que eles querem e o que elas precisam.

Gostou da área de Developer Relations?

Conheça algumas funções que sempre presença no Linkedin:

Developer Advocate

Nesta função, você criará artigos, vídeos, tutoriais e outros tipos de conteúdo sobre a tecnologia do seu negócio. Você construirá relacionamentos com os membros da comunidade para ajudar o time de Produto. Você falará e participará também de eventos. Se você gosta de tecnologia, programação e construção de comunidades, essa função é para você. Descrição resumida encontrada Linkedin como “Developer Advocate”.

Tech Community

Como gerente de comunidade técnica, você será responsável por manter os membros da comunidade engajados e ativos. Você colaborará com a equipe de vendas, produto e marketing, para manter a comunidade informada sobre novas oportunidades e fornecer feedbacks para a empresa. Você também trabalhará em estreita colaboração com a equipe de desenvolvimento. Descrição resumida encontrada Linkedin como “Tech Community”.

Community Manager

Em muitos casos, essa função é a que demanda menos complexidade técnica. Um gerente de comunidades é a pessoa responsável por construir, manter e engajar as comunidades online. O principal objetivo é fazer com que o relacionamento entre as marcas e os seus consumidores seja o mais próximo e sincero possível. É responsável por criar conteúdo, determinar a linguagem mais apropriada e interagir com o público. Esse profissional além de gerenciar a marca em todos os ambientes onde ela está presente, ele também é responsável por levar ao time de produto os principais feedbacks e defender a opinião do usuário. Descrição resumida encontrada Linkedin como “Community Manager”.

Uma introdução à comunidade

O principal trabalho de um Product Manager é entender as necessidades do mercado de seu negócio e, consequentemente, decidir o melhor roadmap para o seu produto, além dos recursos que precisam ser desenvolvidos. Muito disso é alcançado por meio da interação com o usuário final.

No entanto, com esse texto, espero ter evidenciado que a comunidade também tem se tornado importante para esse processo.

Se você tem interesse em implementar uma estratégia de comunidades em sua empresa, saiba que é possível construir as bases para isso, começando pela conscientização sobre a relevância desses espaços para o desenvolvimento do negócio. O principal desafio é definir o propósito da comunidade que deseja criar ou participar, que seja coerente e verdadeiro com o seu propósito.

Pertencer a algum grupo social, ou seja, estar em comunidade, é tanto sobre apoio e troca honesta de ideias quanto sobre conexão e sentimento de pertencimento.

Por outro lado, caso você esteja em transição para área de Produto e tenha um background mais social, saiba que existe um mercado crescente nesse ramo, em que você pode encontrar o seu espaço de desenvolvimento profissional, participando do time de Produto e, ao mesmo tempo, interagindo com pessoas em nome da sua marca.

Obrigado pela leitura! Espero que esse artigo tenha te ajudado a pensar em novos papéis dentro da área de Produtos.

Saiba mais sobre a nossa comunidade admina, aqui.