Agilidade em Produto: sim, tudo pode mudar de uma hora para a outra - e tudo bem!

Se você trabalha ou está se preparando para trabalhar com Produto, certamente já ouviu falar da Mentalidade Ágil.

Podemos dizer que ela surge no mercado de tecnologia como uma forma de contornar as dificuldades que a mentalidade tradicional de gestão de projetos trazia para o desenvolvimento de produtos nessa área.

O desenvolvimento de soluções digitais, a partir dessa visão, costuma estar ligado ao modelo waterfall - ou cascata -, que envolve o período de planejamento no início do projeto e a fase de execução e testes com característica sequencial, com um lançamento único no final de tudo isso. Essa perspectiva mais tradicional faz com que os produtos demorem mais tempo para ser desenvolvidos, sejam mais custosos e, muitas vezes, gerem soluções já obsoletas ou distantes das reais necessidade dos usuários. Afinal, o seu foco é a entrega, havendo pouco espaço para mudanças e aprendizados.

O Manifesto Ágil para Desenvolvimento de Software, documento criado por profissionais ligados ao mercado de tecnologia em 2001, levanta pontos importantes sobre essa transformação de ponto de vista na criação de produtos digitais. Entre outros aspectos isso fica claro em um de seus quatro valores:

“Responder às mudanças mais do que seguir um plano”

e um de seus doze princípios:

“Mudanças nos requisitos são bem-vindas, mesmo tardiamente no desenvolvimento. Processos ágeis tiram vantagem das mudanças visando vantagem competitiva para o cliente”

Sendo assim, na Mentalidade Ágil, mudanças não só são vistas com bons olhos, como são incentivadas, desde que permitam alcançar o principal: entregar valor ao usuário.

O desenvolvimento de um produto digital não pode ser comparado à construção de um prédio ou confecção de um bolo, onde, em geral, trabalha-se com um cenário muito mais controlado. Desenvolvendo um produto digital, quase sempre, lidamos com um grau de incerteza alto e com uma curva de aprendizado significativa, já que manejamos níveis de complexidade, riscos e mudanças elevados. Por isso, durante o processo, é certo que a gente vai errar, olhar para a situação sob outra perspectiva, ter acesso à informações que não tínhamos antes e, então, precisar mudar o que havia sido pensado inicialmente. Logo, é preciso haver espaço para o erro e para a mudança porque é aí, admina/ admino, que aprendemos e temos a oportunidade de atingir os melhores resultados.

Lidar com isso do ponto de vista teórico, claro, é bem mais fácil do que na vida real.

Na prática, mesmo trabalhando com Agilidade, pode ser um grande desafio para a pessoa de Produto. E, olha, posso dizer isso por experiência própria.

Atuando na gestão do backlog de um produto, tanto nós quanto nossos stakeholders queremos ter uma noção de no que vamos trabalhar e quando uma funcionalidade estará disponível, pelo menos, umas 2 sprints à frente - ou aproximadamente 1 mês. Mas… e quando isso não é possível? Quando tudo é tão novo que precisamos recalcular um pouco da nossa rota a cada dia? De mãos dadas contigo, te digo:

respira fundo e abraça a mudança.

• Você vai escrever estórias que serão descartadas,
• vai marcar mais reuniões de alinhamento do que havia imaginado
• e vai lidar com dúvidas de todos os lados.

Mas a boa notícia para você é que todo esse alto nível de instabilidade não vai durar para sempre.

A incerteza e a instabilidade vão diminuindo à medida que o desenvolvimento da solução avança e vai sendo validada, porque vamos aprendendo mais e mais sobre o mercado em que estamos inseridos, a concorrência, os usuários, os stakeholders e o nosso próprio produto.

Mas é importante ficar atento: a incerteza e os riscos podem diminuir, porém, ainda que numa velocidade menor, as mudanças sempre vão aparecer.

Para que isso não seja motivo de angústia ou traga dificuldades para o time, uma comunicação clara vai ser mais importante do que nunca. Um time integrado, que participa efetivamente das decisões e se mantém informado sobre elas, assim como um stakeholder alinhado com você vão deixar sua vida de pessoa de Produto bem mais fácil.

No mais, sossega o coração e segue em frente. Trabalhando com Ágil, mudanças não são o problema e, sim, a solução.

Quanto antes a gente errar e, por isso, mudar, mais cedo a gente aprende o caminho certo.

Referências: CAGAN, Marty. Inspirado: como criar produtos de tecnologia que os clientes amam. Rio de Janeiro: Alta Books, 2021.

PMI GLOBAL STANDARD; AGILE ALLIANCE. Guia Ágil. Newton Square, Pensilvânia: 2017.